Como “coisa e propriedade” Vossa!
- Pe. Vilmar Barreto
- 3 de nov. de 2024
- 3 min de leitura

Por: Pe. Vilmar Barreto - Arq. de Goiânia.
Movimento Filoteia Si vis, Iesu, etiam volo
“Ó minha Senhora, ó minha Mãe, eu me ofereço todo a Vós, e em prova de minha devoção para convosco, eu vos consagro neste dia meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e inteiramente todo o meu ser. E por que assim sou vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me e, defendei-me como coisa e propriedade vossa. Amém”.
A oração em forma de música sempre foi uma demonstração de como, através da arte, podemos louvar a Deus e honrar os santos, especialmente a Virgem Maria. Umas das orações mais conhecidas no Brasil e que remete diretamente a uma devoção à Mãe de Deus é a “Consagração a Nossa Senhora”.
A história dessa bela oração tem uma relação direta com a realidade do contraste da lógica humana com a lógica divina, de dor e confiança, frustração e esperança, fraqueza humana e fé. O escritor e padre alemão, Josef Kentenich, em sua obra “Viver da fé”, aponta que essa oração é atribuída ao padre jesuíta Niccolò Zucchi.
Pe. Zucchi foi um jesuíta, astrônomo e físico italiano do século XVII. A composição da oração em consagração a Virgem Maria provavelmente tenha sido elaborada durante um momento de muita dor interior, quando Zucchi tinha ainda, por volta de 10 anos de idade, com a morte de sua mãe. Na certeza que precisava viver a intimidade do amor de filho para com uma mãe e interiormente convencido por um desmedido desejo espiritual chegou à conclusão de que, não tendo mais a mãe terrena e que, sem mãe não poderia viver, resolveu se consagrar totalmente a Mãe de Deus passando a ser plenamente dependente da Virgem Santíssima.
No Brasil a oração se tornou música através da compositora e cantora católica Fátima Gabrielli que gravou “consagração a Nossa Senhora” em 1992. Com melodia encantadora e fácil de guardar no coração passou a fazer parte de novenas, consagrações, festividades Marianas e, inclusive, no final de várias Missas, como um momento devocional Mariano.
Com o passar do tempo a letra sofreu uma pequena alteração em palavras, mas grande no sentido original, onde se canta “como coisa e propriedade” passou a ser “como filho consagrado”. Aparentemente ficou mais “sugestivo” para a compreensão na língua portuguesa ao afirmar que somos filhos consagrados em Maria. Contudo, por mais que é válida tal chave de leitura, o autor, Pe. Zucchi, na originalidade de sua composição escreveu: “O Domina mea! O Mater mea! Tibi me totum offero, atque, ut me tibi probem devotum, consecro tibi [hodie*] oculos meos, aures meas, os meum, cor meum, plane me totum. Quoniam itaque tuus sum, o bona Mater, serva me, defende me ut rem ac possessionem tuam. Amen”.
A partir da compreensão do Latim, sabe-se que o termo rem pode significar, entre outras palavras: coisa, negócio. Consideremos aqui que a oração foi escrita por uma criança de 10 anos, usando um linguajar simples, mas de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e com toda a tua capacidade intelectual (cf. Lc 10,27).
O outro termo é possessionem que significa propriedade. Já somos filhos de Maria Santíssima, e essa verdade foi instituída por Jesus Cristo (cf. Jo 19,25-27), à vista disso, podemos concluir, numa visão espiritual, que Pe. Zucchi propõe que também somos coisa, mas uma coisa que tem pertença, em que o proprietário faz o que deseja, isto é, somos unidos à Maria, pertencemos a ela, na simplicidade de uma coisa, afinal, ela também disse que era pequena, serva, escrava (cf. Lc 1,38).
O mais importante não é definir como cantar a letra da música, mas o fato de reconhecer a ação da Virgem Santíssima na história da humanidade, apresentando sempre seu Filho Jesus e, ao chegar o fim de nossa caminhada na terra podermos professar palavras tão sábias e cheia de fé, como fez o Pe. Zucchi:
“Esforcei-me para viver esta consagração e com suma gratidão, tenho de testemunhar frente à mãe de Deus, ter-me Ela livrado, durante toda a vida do pecado grave. Ela de fato agiu comigo como sua possessão e propriedade. Agora posso partir para a felicidade eterna para contemplá-la e nela ser propriedade de Deus eterno por toda a eternidade”.
Pe. Vilmar Barreto
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