Não existe cristão marxista
- Professor Marcelo Bruggemann
- 27 de dez. de 2023
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Karl Marx, mencionado como o visionário filósofo do século XIX e arquiteto da poderosa corrente marxista, forjou uma doutrina revolucionária que transcendeu as fronteiras sociais, estendendo-se audaciosamente às esferas religiosas. A luta de classes emerge face ao capitalismo, como uma das temáticas supremas em seus escritos, ecoando como uma narrativa que desencadeou turbulências na teia da sociedade humana. Sua proposta fundamenta-se na assertiva de que o curso do progresso social foi moldado pela incessante luta entre a opulenta burguesia, detentora do capital, e o resiliente proletariado, detentor da força laboral.
A influência imponente de Marx floresce em um solo propício à contestação da ordem estabelecida, almejando uma revolução que se estenda por toda malha social. A política, como epicentro de seu propósito, delineia-se como a expressão máxima, transmitindo aos seus adeptos suas aspirações e estabelecendo uma simbiose tardia com as correntes políticas de índole esquerdista, ao passo em que hoje, esse elo atinge um estado de indissolubilidade.
O propósito manifesto de Marx consistia em depor Deus e aniquilar o capitalismo, encarando o cristianismo como um instrumento de dominação burguesa sobre o proletariado. A religião, para ele, representava obstáculos intransigentes à realização da revolução proletária, destinada a instaurar um mundo comunista.
A incompatibilidade entre cristianismo e marxismo se revela em concepções fundamentais sobre a essência da condição humana. Para Marx, o ser humano torna-se o centro da vida e dos valores, desviando o olhar da humanidade do Deus Criador.
Ele sustenta a tese de que o mundo religioso se configura unicamente como um epifenômeno, refletindo subservientemente a ontologia do mundo tangível. Ou melhor, que a religião é um subterfúgio, uma fuga das responsabilidades, uma criação dos abastados para aliviar o sofrimento causado pelo capitalismo.
Ao passo em que o cristianismo se fundamenta na criação divina, na valorização intrínseca do ser humano, na busca pela transformação espiritual e na compreensão da complexidade das ideias e valores, o marxismo se volta para a luta de classes, a busca pelo poder político e a redução da realidade à dimensão material.
Ao desacreditar a religião como uma construção da classe dominante para manter o status quo, Marx ignora a riqueza de significados espirituais e morais que ela pode oferecer. A premissa fundamental é que apenas o materialismo é real, o que revela uma visão reducionista que limita a compreensão da complexidade humana. Aceitando essa proposição, instaura-se o fato de que tudo emana da posse monetária de um indivíduo – uma afirmativa que gerou a consequência do materialismo marxista que se presencia nos dias atuais.
Enquanto o marxismo almeja “desvelar a verdade” ao afirmar que a religião constituí uma artimanha da elite dominante, por outro lado, imputa ao proletariado a condição de iludido, incitando-o a renunciar à sua fé.
Enquanto a Bíblia atribui a Deus o papel de Criador, Marx inverte essa narrativa, colocando o homem como o construtor da ideia de Deus. A liberdade bíblica reconhece o indivíduo como imagem divina, responsável perante Deus, em contraste, a visão marxista submete o indivíduo ao Estado, onde a liberdade é eclipsada pela ausência de Deus.
Esse cenário levou a Igreja Católica, histórica construtora da civilização ocidental, a enfrentar incessantes embates do marxismo cultural. Este último propaga a erigência de uma sociedade relativista, coletivista e individualista, destituída de qualquer transcendência divina. Por outro lado, o cristianismo ancora-se nas virtudes da tradição apostólica, sendo mediador, religando o homem a Deus. Para Marx, a religião é o “ópio do povo”, um obstáculo à utopia comunista.
A incompatibilidade entre essas visões de mundo revela-se evidente na história, onde o comunismo impôs perseguições ideológicas e martírios cristãos em nome de sua utopia terrena. Qualquer indivíduo de fé que possua um conhecimento mínimo da Bíblia reconhece a verdade bíblica como absoluta: Deus encarnou-se. Esta é a verdade inquestionável, pela qual milhões sacrificaram suas vidas em defesa dessa fé. O marxismo, por sua vez, aproxima-se do ateísmo, onde a verdade é subjugada à utilidade partidária.
A ideologia marxista é radicalmente contraria a revelação cristã, a rigor, o marxismo se manifesta historicamente em perseguições e conflitos que permeiam a compreensão da natureza humana, da liberdade individual e do papel da religião na sociedade.
A ideologia marxista moldou e desafiou a história, deixando uma marca indelével nas sociedades que a acolheu. O embate persiste, não apenas nos livros e teorias, mas nas lutas sociais e nos dilemas éticos que enfrentamos diariamente. Diante desse confronto de perspectivas, resta-nos contemplar a riqueza da diversidade humana, reconhecendo que o diálogo e a compreensão mútua são essenciais para superar as barreiras ideológicas. Que a história nos sirva de guia, alertando-nos sobre os perigos da rigidez ideológica e inspirando-nos a construir pontes em vez de muros.
Nesse intricado tecido da história, o cristianismo emerge como uma luz que permeia as sombras do embate ideológico. No cerne da mensagem cristã, encontramos a força transformadora, a promessa da redenção e a visão de uma humanidade unida por valores transcendentais. Visto isso, não existe cristão marxista. A tensão entre essas duas filosofias revela-se não apenas em questões doutrinárias, mas também em divergências práticas quanto aos meios de alcançar uma sociedade mais justa.
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